Pense no que você faria se lhe fosse dito que lhe restam três meses de vida. Depois do pânico inicial… Suas rotinas diárias, as coisas que você considera importantes, inadiáveis, pelas quais sacrifica o ócio, a meditação, o brinquedo… A leitura de jornais, os canhotos dos talões de cheque, os documentos para o IR, os ressentimentos conjugais, os rancores profissionais, a pós-graduação, as perspectivas da carreira… Tudo isso encolheria até quase desaparecer. E o presente ganharia uma presença que nunca teve antes. Ver e saborear cada momento; são os últimos: o quadro, esquecido na parede; o cheiro de jasmim; o canto de um pássaro, em algum lugar; o barulho dos grilos, enquanto o sono não vem; a gritaria das crianças; os salpicos da água fria, perto da fonte… Talvez você até criasse coragem para tirar os sapatos e entrar na água… Que importaria o espanto das pessoas sólidas? Talvez encontremos aqui as razões por que a sociedade oculta e dissimula a morte, tornando-a até mesmo assunto proibido para conversação. A consciência da morte tem o poder de libertar, e isso subverte as lealdades, valores e respeitos de que a ordem social depende. Colocando os sepulcros nas mãos dos deuses, a religião obriga a inimiga a se transformar em irmã… Livres para morrer, os homens estariam livres para viver…
Raphael Rap disse... said:
Podemos dizer então que a morte física é a única que nos faz não olharmos para a vida como deve ser vista?
dlrandrade disse... said:
Eu diria que ela nos faz olharmos para a vida da maneira que sempre deveria ser vista!
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